Conheci a Cidade do Cabo na semana passada. Foram apenas quatro dias, mas muito intensos. A cidade é linda, tem vários passeios obrigatórios e muito diversos um do outro.
E também, estou numa boa altura para dobrar o Cabo da Boa Esperança. Afinal, a cidade é do cabo, por causa dele, o cabo, já chamado também das Tormentas. Inclusive, deu para entender bem porque das Tormentas. Como venta naquela região!
E esse vento define a possibilidade de se fazer alguns passeios muito bons. Então, a grande dica é: desde o primeiro dia que estiver na região tente fazer o passeio a Robben Island e subir de teleférico na Table Mountain.
Robben Island é a ilha onde fica a prisão na qual Nelson Mandela passou 18 anos cumprindo parte de seu confinamento de 27 anos. Chega-se à ilha de barco e muitas vezes o passeio é cancelado por causa do vento forte. No dia que fomos, o guia avisou que estava muito feliz em nos receber, porque durante cinco dias não tinha havido passeios devido às condições climáticas. Depois, o percurso é feito de ônibus.
O grande valor histórico do passeio e essa dificuldade logística-climática fazem com que seja bom comprar o bilhete com antecedência, porque há sempre muita procura. Três semanas antes já é possível fazê-lo pelo site Webtickets. Foi o que fizemos e deu muito certo. Compramos para o primeiro dia que estaríamos lá, pensando no risco de não ir por causa do vento. Mas foi justamente nesse dia que o vento deu uma folga! Cada pessoa paga ZAR 220,00 (R$ 51,65).
A ilha é habitada há milhares de anos. Desde que os holandeses chegaram, no século XVII, passou a ser usada principalmente como prisão. Sua história é de muita tristeza, o que faz o passeio ser de grande reflexão. No século XVII o local abrigou importantes príncipes e xeques da Índia, Malásia e Indonésia, prisioneiros da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais por incitarem a resistência contra os dominadores europeus. Os britânicos também enviaram para lá os governantes nativos do povo xhosa. Em 1963, chegaram na ilha Nelson Mandela e outros sete ativistas condenados à prisão perpétua. O lugar serviu ainda como campo de treinamento e defesa durante a II Guerra Mundial e como hospital para pessoas com hanseníase e doenças mentais ou crônicas de 1846 a 1931.
Em 1991, os últimos prisioneiros políticos foram libertados. Desde 1997 a ilha é um museu a céu aberto, sobre todos esses isolamentos. E quem nos conta a história são ex-prisioneiros transformados em guias turísticos. Definitivamente, visitar a África do Sul hoje é aprender muito sobre perdão e não-revanchismo. O nosso guia foi o simpático e divertido Yussif, que na foto aparece de camisa branca e colete, despedindo-se dos turistas.
O segundo passeio que tem que ser tentado desde o primeiro dia é subir na Table Mountain. Nós só conseguimos encontrar o teleférico aberto e topo da montanha não encoberto por nuvens no último dia. O ideal é ir no pôr do sol, que é lindo visto lá de cima. Mas desde o segundo dia já estávamos conformados em ir a qualquer hora que abrisse o tempo. Deu certo de ser no final da tarde. A subida e a descida podem ser feitas a pé também. Mas às vezes o vento é tão forte, que nem mesmo a pé é possível.
O nome significa Montanha da Mesa, porque seu amplo platô (cerca de 3 quilômetros de uma ponta a outra) faz com que a montanha tenha mesmo um aspecto de mesa. O portal do teleférico fica em um ponto já bem elevado, depois de uma estrada cheia de curvas. O ingresso ida e volta no teleférico sai por ZAR 195,00 (R$ 45,80). Ele é redondo, todo fechado e gira. Desta forma, em qualquer lugar que você se posicionar quando entrar, vai ter vista de 360 graus duas vezes durante o trajeto.
Lá de cima ficamos a 1.086 metros de altitude e pode-se ver o Atlântico, a Robben Island nele, o Índico e toda Cidade do Cabo até o Cabo da Boa Esperança. É de tirar o fôlego. Não sei se durante todo o ano é a mesma coisa, mas agora em outubro estava um frio enorme e um vento forte. Mesmo bem agasalhados, logo tivemos que nos abrigar no café.
Seguindo na linha dos passeios obrigatórios, tem a ida ao Cabo propriamente dito: ponta de terra que entra pelo mar adentro, a 160 quilômetros da cidade. O ideal é fazer dois caminhos distintos para ida e volta, assim se pode conhecer mais a região. Optamos por ir pela costa Atlântica e voltar pela Índica. O passeio é tão lindo que fica impossível estimar um tempo de duração. Depende de quantas vezes você vai parar para apreciar a paisagem, os animais (de macacos a baleias!) e a própria estrada, que é uma escultura em volta das montanhas. Paramos inúmeras vezes. Mas sempre é possível ir no início da manhã e voltar no fim da tarde.
O auge é o Cape Point. Um parque nacional onde é possível ir até o Cabo da Boa Esperança. Mais uma vez, vento, muito vento. E aqui estão as atormentantes águas do cabo:
Seguimos pela estrada que continuou linda e ainda nos reservou algumas paradas para ver baleias e tubarões e chegamos à pequena Simon’s Town. Na rua principal, uma grande variedade de restaurantes garante uma agradável pausa para o almoço. Depois, uma visita à praia Boulders, onde vive uma colônia de mais de 2.300 pingüins africanos. Divertidíssimo encontrar macacos e pingüins ao longo do mesmo passeio…
Estando nessa região da África é preciso reservar tempo também para visitar uma vinícola. Estivemos na Constantia. Fica mesmo dentro da Cidade do Cabo e é a mais antiga da África do Sul. Depois do tour guiado com explicações sobre a produção do vinho, é possível fazer degustação e passear pelos jardins e vinhedos até o efeito do álcool passar para poder dirigir novamente.
Ainda tivemos tempo para ir a Stellenbosch e Franschhoek, duas cidades há cerca de 50 quilômetros da Cidade do Cabo. A primeira tem como forte característica as construções em estilo holandês. O centro é de uma típica cidade antiga européia e pode ser explorado a pé em uma hora e meia. Franschhoek tem características mais francesas e é conhecida pela ótima gastronomia. Na rua principal, uma série de restaurantes oferece variados cardápios, com predominância da culinária francesa. Ambas estão também na rota do vinho da África do Sul e há nelas diversas vinícolas para serem visitadas.
Ainda na rota do vinho, mais uma parada, desta vez, histórica, em Paarl, na prisão Victor Verster, onde Mandela estava quando foi libertado em 1990.
Para os fãs das comprinhas, Cidade do Cabo também não deixa a desejar. No centro da cidade, cercada por bonitos e bem conservados prédios históricos e simpáticos cafés, fica a Greenmarket Square, uma praça que recebe diariamente uma diversificada feira de artesanato. Para os ainda mais consumistas, vale uma visita ao shopping do V & A Waterfront. O Vitoria & Alfred Waterfront trata-se de um projeto de reconstrução do cais de Cidade do Cabo. Há um grande shopping, mais de 80 restaurantes e lanchonetes (muitos com vista para o mar), hotéis, edifícios residenciais e comerciais e é de lá que saem alguns passeios marítimos, como o para Robben Island.
Sei que o texto ficou enorme, mas tudo na Cidade do Cabo merece registro.
E para ler ainda mais sobre essa viagem, visite o ElefanteNews.