Quisse Mavota: laudo final?

Em maio de 2010, relatei o mistério de Quisse Mavota: em menos de 20 dias, cerca de 70 alunas do ensino secundário de uma escola de Quisse Mavota, na periferia de Maputo, sofreram desmaios.

No comecinho de junho, contei que tinha sido feito lá um ritual tradicional, mhamba, para evocar espíritos dos corpos que tinham sido enterrados no terreno, em um antigo cemitério que existia onde foi construída a escola. Havia a crença de que faltara o cumprimento de algum ritual para a construção da escola, e, como consequência disso, os espíritos estavam zangados.

Alguns dias depois, contei que não houve mais desmaios na escola. Então, citei Miguel de Cervantes: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”

Mas o Ministério da Saúde, cumprindo seu papel, continuou as investigações e agora, cinco meses depois dos desmaios, informa o resultado: tratou-se de um caso de histeria coletiva. À época, foi mesmo uma das possibilidades levantadas pelo ministério. Eu, da minha parte, continuo nas citações. Dessa vez recorro a Sócrates (o filósofo, não o camarada do futebol): “só sei que nada sei”.

Leia mais sobre o desfecho (por enquanto) dessa história, em matéria que o Eduardo Castro fez para a Agência Brasil e divulgou no ElefanteNews.

Quisse Mavota sem desmaios

Como já contei aqui, entre os dias 13 e 28 de maio, cerca de 70 alunas do ensino secundário da escola Quisse Mavota, na periferia de Maputo, sofreram desmaios. Isso dá uma média de quase seis por dia, se considerarmos só os dias letivos.

No dia 29 de maio, foi feito um ritual tradicional, com sacrifício de animais, para acalmar os espíritos que poderiam estar causando os desmaios. O ritual chama-se “mhamba” e falei dele aqui também.

Bem, desde o ritual, oito dias úteis se passaram e não há mais notícia de desmaios na escola. Portanto, muitos poderiam, diante dessa constatação, se render e citar Miguel de Cervantes: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”

Eu, particularmente, jamais diria que não creio em bruxas ou em qualquer coisa.

Sobre o assunto, o ritual e tudo mais, o Eduardo fez uma matéria bem interessante para a TV Brasil, que foi ao ar nessa segunda-feira, dia 7 de junho. Como ele já aprendeu a dizer: valapena clicar aqui e assistir.

Aproveito a oportunidade e trago um link para o blog Diário de um sociólogo, de Carlos Serra, que também escreve a partir de Moçambique. Ele teve acesso aos registros médicos que foram feitos nas consultas com as alunas em questão. Veja lá.

Published in: on 09/06/2010 at 13:42  Comments (3)  
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Quisse Mavota: o ritual está feito

Sábado passado publiquei nesse blog a informação de um ritual tradicional que ocorreria em uma escola, para acabar com desmaios de alunas, que já chegavam na casa dos 70. Veja aqui. O ritual foi realizado. Participaram representantes da comunidade local e os familiares envolvidos com o terreno e com as meninas que sofreram os desmaios.

A cerimônia realizada é chamada “mhamba” e consiste no sacrifício de animais de pequeno e grande porte (no caso bois e cabritos), rezas e outros rituais tradicionais, com o objetivo de evocar os espíritos dos que lá foram enterrados.

Até agora, não houve novos registros de desmaios. Vale observar que, em geral, os desmaios vinham acontecendo no final da semana, na quinta-feira e na sexta-feira. Então, aguardemos mais alguns dias para ter certeza do resultado. Aliás, o Eduardo, do ElefanteNews, está preparando uma matéria completa sobre o assunto para a TV Brasil.

Também é relevante saber que a Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (Ametramo) tem dado declarações, por meio de sua vice-presidente e de seu porta-voz, informando que a associação não foi contatada pelas autoridades locais sobre o caso e não foi nenhum de seus associados que realizou a cerimônia. Dessa forma, a Ametramo não pode saber se foram respeitadas todas as etapas dos rituais para que os resultados venham a ser positivos.

Manterei os leitores deste blog informados.

Published in: on 02/06/2010 at 16:56  Comments (2)  
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O mistério de Quisse Mavota

Morar em lugares diferentes é maravilhoso por diversos aspectos. Um deles é o fato de você encontrar pessoas que têm hábitos, culturas, valores e maneiras de fazer as coisas diferentes dos seus. Se você não é um completo cabeça dura, percebe, então, que nem sempre o seu jeito é o único existente e nem necessariamente está certo. Percebe, aliás, que há muito poucas coisas que podem ser definidas como certas ou erradas. Tudo depende do contexto em que acontecem.

Quando viajamos a passeio ou para morar uma temporada em um novo lugar, o mais importante é deixar para trás todo tipo de pré conceito e aceitar o que vier como novo, possível, interessante, didático. Essa atitude faz com que nos adaptemos facilmente ao novo ambiente e também sejamos bem aceitos pelos que lá já estão.

O que vai se dar nesse sábado aqui em Maputo, Moçambique, é algo que nunca tinha me passado pela cabeça acontecer. Mas está acontecendo… Imaginem vocês que, de acordo com as notícias que acompanhamos aqui pela TV, jornal e internet, o governo de Maputo comprou dois bois e dois cabritos para serem sacrificados em uma cerimônia que busca acabar com o mistério de desmaios na região.

Fico pensando como seria no Brasil um governador comprar animais para fazer sacrifícios buscando resolver um problema, aparentemente, de saúde. Pois bem, aqui o que se dá é que há comentários de que o governo agiu tarde. Porque, inicialmente, buscou uma solução científica para algo que a sociedade, desde sempre, dizia que se resolveria com uma cerimônia tradicional.

O problema misterioso em questão são desmaios de alunas do ensino secundário de uma escola de Quisse Mavota, na periferia de Maputo. Cerca de 70 meninas já sofreram desmaios desde o dia 13 de maio de 2010.

Há a crença de que faltou o cumprimento de algum ritual para a construção da escola, que se deu no terreno de um antigo cemitério familiar (apesar dos corpos terem sido exumados e transferidos para outro terreno antes da construção), e, como consequência disso, os espíritos estão zangados.

Cientificamente, pode ser explicado por envenenamento na alimentação local ou na água. Pode ser uma ansiedade generalizada devido ao período de provas. Ou ainda uma histeria coletiva gerada após o primeiro caso de desmaio, fazendo com que outras pessoas em volta passassem a ter os mesmos sintomas, sem ter o problema, necessariamente.

Mas como quinze dias se passaram sem um parecer científico resolutivo, neste sábado buscam a ajuda da sabedoria tradicional. Aguardemos os resultados.

Published in: on 29/05/2010 at 08:59  Comments (10)  
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