O pedido é mais importante que o casamento

Hoje vou tratar do alambamento, citado na música Vai na tua mãe, assunto de ontem. Alambamento (ou alembamento, como encontrei grafado em alguns lugares) é termo angolano, não moçambicano. Mas como está na música que indiquei conhecerem, devo esclarecer. Faço isso por meio de pesquisas na internet, em endereços que listo no final.

O pedido da mão da namorada em casamento é feito ao tio (ou ao homem mais velho da família da mãe da noiva) e é preciso receber o consentimento de toda a família da noiva, que participa do momento. No dia em que se marca a data para o pedido ser feito oficialmente é entregue ao pretendente uma lista de coisas que ele deve conseguir até o alambamento. Até parece uma gincana, não?

Enfim, na lista há várias coisas. Sempre, consta, por exemplo, que ele deve levar um envelope com uma quantia em dinheiro. Há também itens como “a altura da noiva em grades de cerveja e refrigerantes”, garrafas de vinho, um cabrito, um cordão de ouro, roupas e sapatos para este ou aquele membro da família.

No dia marcado, a família do noivo vai até a casa da noiva (é preciso mesmo uma família para carregar todos os itens da lista…) e o tio da moça dá início à cerimônia. Inicialmente, o pai da noiva diz se concorda com o pedido. Havendo concordância, o noivo faz entrar os bens do alambamento. Tudo conferido, é marcada a data do casamento. O ritual termina em festa.

Na pesquisa que fiz, percebi que a tradição já não é mais cumprida por todos, mas sim pelas famílias mais conservadoras. E vale observar que essa cobrança se dá porque na cultura africana a figura principal da família é a mulher, portanto, é muito valiosa. Em que sentido? Ela é quem trabalha a terra e gera os filhos, que irão ser mão de obra no futuro.

Para ilustrar a importância do evento ainda hoje na sociedade angolana, trago um vídeo de uma famosa marca de vinho em Angola, que usa o ritual em sua propaganda. Mas, não pensem os leitores desavisados que em Moçambique sai de graça. Não é só dar um par de alianças fininhas de ouro (quando tanto), como no Brasil. Aqui temos o Lobolo, um ritual semelhante, que consiste, ao fim e ao cabo, em dar uma compensação à família pela perda da jóia feminina. Mas parece que já é ainda menos praticado do que o alambamento.

Fontes:
Muxima N’Gola

Conde de Angola

Teto de Estrelas

Muanadamba

Monografia sobre o grupo étnico Muila

Além das sempre enriquecedoras conversas nas ruas.

Published in: on 28/05/2010 at 11:00  Comments (14)  
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