Nesse dia 2 de setembro, Maputo acordou muito mais policiada. Estavam nas ruas a Polícia da República de Moçambique e a Força de Intervenção Rápida. Aparentemente, houve menos manifestações que ontem ou, pelo menos, foram detidas mais rapidamente, devido ao maior efetivo policial nas ruas. Mas, o que me assusta um pouco, nas imagens que vemos na TV e nos relatos de quem ousou mais que eu e foi às ruas, é que a polícia não parece ter treinamento para dispersar sem chegar a fatalidades. Hoje pela manhã, um grupo de pessoas estava em frente a uma padaria, um dos poucos estabelecimentos comerciais abertos na cidade, a polícia chegou perto e, numa ação de “dispersar” o grupo, que nem estava a se manifestar ou quebrar nada, atirou para o chão. Podem ter sido balas de borracha, não houve feridos e a mira não foi nas pessoas. Mas, seria isso necessário?
Ontem, 1 de setembro, no post Greve de Ninguém, falei sobre a não liderança do movimento e a ausência de um comando nessa greve-protesto. O fato é que existe uma liderança, claro. Ou não teria havido o movimento. Mas ela é virtual, não se sabe qual é a cara dessa liderança. Não há um representante que se apresente para negociar com o governo. O uso do SMS (mensagens de texto no celular) anônimo foi muito efetivo para mobilizar, mas como controlar isso agora? A idéia está lançada e qualquer um pode começar a mandar mensagens incitando a violência, por exemplo.
No blog Diário de um Sociólogo, o professor Carlos Serra divulgou hoje uma carta aberta ao Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, onde pede que o chefe da nação “não permita que… alguém tome o Povo por criança, bandoleiro, irresponsável e criminoso”. Pede ainda “que não se fale para o Povo e do Povo, mas que se fale com ele”.
Na noite do primeiro dia de greve, 1 de setembro, o presidente Guebuza fez um pronunciamento na TV onde afirmou que os compatriotas moçambicanos estão sendo usados na agitação e contribuindo para o luto e dor no seio da família moçambicana. O presidente falou ainda de alguns avanços que foram registrados pelo seu governo e da consciência que tem de que “ainda é pouco para o nível das necessidades do nosso maravilhoso Povo.”
O ministro do Interior, José Pacheco, também se pronunciou, tachando os protestos de vandalismo e qualificando seus autores como malfeitores. Ele ainda apelou à calma e serenidade. A resposta do povo foi continuar a desafiar a polícia. Os manifestantes prometem para amanhã, dia 3 de setembro, mais um dia nas ruas.
O que eu observo em tudo isso é que Moçambique, como nação independente, é muito nova, são apenas 35 anos. Por isso, há que se compreender que há ainda coisas demais a se aprender. De todos os lados.
Aqui, um resumo do que se passou no segundo dia de manifestações, em várias zonas, divulgado pelo Moçambique para Todos.