Ruim de serviço

Quem está familiarizado com as publicações informativas do Brasil ou sites brasileiros está acostumado a encontrar as informações de serviço juntamente com as notícias. Ou seja, se há uma informação sobre os filmes que estão em cartaz nos cinemas, com as resenhas dos filmes, juntamente encontra-se o horário de cada sessão e o valor. Se há uma notícia sobre um show (concerto, por aqui) que vai acontecer, você tem junto a informação sobre onde comprar os ingressos, valores, etc. etc. etc.

Aqui não. São capazes de fazer uma matéria de página inteira sobre um novo restaurante na cidade, por exemplo, sem dizer onde fica o dito cujo. Ao fim da história, você não se sente informado. Gastam uma página de jornal com resenhas dos filmes que estão em cartaz na cidade e você fica sabendo apenas que tal filme está em cartaz no Xenon. Se você não sabe onde fica o Xenon, o problema é seu. Se você quer saber a que horas passa o filme, descubra onde fica o Xenon e vá até lá saber o horário da sessão.

É desanimador. Até pouco tempo atrás o jornal O País não tinha edições aos finais de semana. De repente, começou a ter um caderno de fim de semana, que é distribuído no sábado pela manhã. No primeiro dia que chegou, abri ansiosa, na expectativa de que ele pudesse contribuir para programar meu fim de semana. Que nada, todo sábado ele chega, todo sábado chega sem serviço.

Quando você se interessa por alguma informação e quer participar de algum evento, tem tanto trabalho para descobrir onde fica e a que horas vai ser, que acaba por desistir. Há pouco tempo foi inaugurada uma feira permanente de artesanato, gastronomia e flores na cidade de Maputo, a FEIMA. Foi super divulgado, mas super mal divulgado. Tudo que se dizia, quando muito, é que ficava no Jardim Parque dos Continuadores.

Tive que perguntar aqui e ali para descobrir que o Jardim Parque dos Continuadores fica entre as avenidas dos Mártires da Machava e Armando Tivane. Tive que ir lá para descobrir que funciona todos os dias, das 10h às 18h, com algumas barracas ficando até 19h.

“Ah, mas todo mundo sabe onde fica o Parque dos Continuadores”, podem dizer. Todo mundo quem, cara pálida? Eu não faço parte do mundo? Eu não sabia. Se no jornal tem uma informação que eu já sabia, isso não me atinge negativamente. O problema é eu não saber uma informação e ela não constar do jornal.

O mesmo acontece agora com o prêmio BCI de Literatura 2010. Divulguei o prêmio no post Mais uma tentativa, mas nem no site do BCI nem no site que encontrei da Associação dos Escritores Moçambicanos (parece que há outro endereço, mas não identifiquei), há qualquer informação sobre o funcionamento do prêmio (quem pode se candidatar, até quando, regulamento, etc.) Nas notícias que foram divulgadas sobre o assunto, nem pensar. Lá vou eu, continuar meu trabalho de investigação, para ter uma informação que, supostamente, deveria constar nas notícias que me fizeram saber da existência do prêmio.

Na RDP África, rádio que costumo ouvir por aqui, sempre que divulgam um concerto, no final do anúncio vem a frase que me dói no coração: “ingressos a venda nos locais habituais”. Quais são os locais habituais, céus? Ou seja, se você não tem o hábito ainda, continuará sem ter…

Eu tive um professor na escola de jornalismo, Evaldo Dantas, que dizia: escreva todos os dias como se fosse ser lido por uma criança de 12 anos que está a ler o jornal pela primeira vez. Isso me marcou. Porque o que uma criança de 12 anos entende um senhor de 40 também entende. O inverso nem sempre acontece. E então, você pode desanimar essa criança de 12 anos. Ela pode não voltar mais ao seu texto no dia seguinte.